Sit UBU, sit! Good dog!

(Woof!)
Pâ, pâ, pâ, pâ, pâpâ, pâ-ráá´...!


Era assim que terminava a exibição de cada episódio da série "Quem Sai aos Seus". Era a parte final mas fazia as delícias dos miúdos, que a aguardavam para cantarolar a curiosa melodia da produtora e ver aparecer a imagem do cão.

QUEM SAI AOS SEUS (Family Ties no original) é capaz de ser a série mais longamente emitida em Portugal. Quando deixava de ser exibida num canal, logo passava para outro e, deste modo, entrou no novo milénio sem que a emissão fosse interrompida.

A sua última exibição foi no canal SIC Gold. Começou por ser emitida na RTP2 na década de 80 e nos EUA, de onde a série é natural, foi exibida entre 1982 a 1989. Não é por isso, das séries mais duradouras alguma vez feitas nessa fértil década que foi os anos 80, mas atingiu uma maturidade que se diria que esteve mais que os seus 7 anos no ar. Teve várias participações especiais de actores que vieram a fazer muito sucesso no cinema: Courteney Cox, Geena Davis, Tom Hanks e River Fhoenix. por exemplo.

Traduzido à letra, o título Family Ties quer dizer "Laços Familiares" ou "Laços de Família". Embora o sentido não se tenha perdido na tradução portuguesa do título (Quem Sai aos Seus - não degenera) surpreende-me quase sempre a escolha tradutória para português no Brasil: "Caras e Caretas" - foi o título escolhido. Será que é porque, como é natural em sitcoms cómicas, existem muitas expressões faciais, ou quem decidiu o título era fã incondicional das caretas de Michael J. Fox no papel de Alex?

A história centra-se basicamente numa família. Um casal, três filhos, uns na adolescência outros quase a entrar nela. Focam-se questões diárias que fazem parte da vida de qualquer pessoa. A escola e as amizades no caso dos adolescentes, a família e o emprego no caso dos adultos, e por aí fora. Mas "Quem Sai Aos Seus" foi uma série bastante inovadora. Ela mostra uma família que, apesar da "generation gap" (brechas entre gerações, digamos) consegue comunicar. E este é o seu maior trunfo, o que fez com que todos se colassem ao ecrán para a assistir. A família discutia e desentendia-se e passavam pelo mesmo tipo de problemas que todas passam. Mas acabava sempre tudo bem, através do diálogo e da comunicação.

Eis a razão de gostar tanto desta série. Durante muito tempo não sabia nem pensava o que podia esta possuir para gostar de a ver mas, com o tempo, fui percebendo.

Em jovem adolescente a parte mais agradável do meu dia era ver sitcoms. "Quem Sai Aos Seus" fez parte de um rol delas, que passavam num canal parabólico em séries de quatro, o que me facultava duas horas de pura risada diária. Sim, não tinha legendas! O que só aperfeiçoou a minha percepção da língua inglesa.

Tive oportunidade de viver em Inglaterra em duas ocasiões diferentes. E agora me lembrei que, não sei porquê, em ambas as ocasiões tive pessoas a me perguntar onde é que tinha aprendido a falar a língua, pois a falava bem mas, num estilo "americano".

Ora bem! É por esta razão e também por outras, que defendo a exibição de séries e filmes legendados. No Brasil tudo é dobrado (ou dublado, como dizem). Em Portugal todos os filmes exibidos na televisão e também os vendidos em DVD estão na sua versão original, apenas legendados para português. Até pouco tempo, o mesmo se sucedia com os documentários. Mas com a chegada da TV por cabo e dos canais documentais, estes passaram a ter tradução portuguesa. Uma pessoa habitua-se mas, é preciso ter cuidado, para não se perder o contacto com as línguas originais. Nada melhor do que deixar os nossos sentidos serem conduzidos pela sonoridade que originalmente decidiram atribuir a uma obra!

Mas desengane-se quem pensa que isto basta para aprender um pouco melhor uma língua estrangeira. É claro que ajuda. Não sei falar quase nada em Francês e o facto de passarem menos filmes franceses na televisão não é coincidência. Mas aprender na escola, bem ou mal, ajuda. Porque além de perceber, há que falar, ler e escrever! Digamos que as duas experiências se complementam.

Voltando a "Quem Sai aos Seus", o seu "trunfo" é, sem dúvida, mostrar uma família em comunicação. A série facultou uma nova percepção de família, mostrou outras formas de agir. Os pais "Elyse e Steven Keaton" não eram pais rígidos e opressores, que impunham o seu pensar aos filhos e exigiam obediência total. Por seu lado, ás vezes eram os filhos que se sentiam incomodados pelas demonstrações de afecto dos pais e pelo seu sentido cívico. Porém, não deixavam de ser miúdos em crescimento, com os problemas comuns e as traquinices habituais. Esta era uma família normal, mas que povoava pouco o ecrán. Para uma sociedade de desenvolvimento industrial rápido, mas com as suas raízes na pobreza extrema e na dificuldade de comunicação entre filhos e pais, como é a sociedade portuguesa, a série pode ter contribuido para formar, indirectamente, a maneira de ser da geração que se seguiria na idade adulta.



publicado por TV Mania às 20:36